Alçada ao posto de um dos
principais focos de mercado nas estratégias de crescimento das grandes empresas
globais, a América Latina tem amadurecido também em uma área até pouco tempo
vista como secundária nos processos decisórios do cenário corporativo. Acompanhando
as tendências mundiais, os departamentos fiscais e tributários tornam-se cada
vez mais estratégicos para as companhias. E, dentre os países
latino-americanos, é o Brasil quem lidera esse processo. Estudo inédito da KPMG
sobre o impacto das questões fiscais na nova realidade de negócios da América
Latina mostra que líderes das áreas tributária e fiscal têm interagido mais com
altos executivos e ampliado a influência e o valor do departamento dentro das
empresas. A pesquisa aponta que, apesar de os departamentos fiscais de empresas
latino-americanas dedicarem mais horas a atividades ao cumprimento das
obrigações regulares de apurações dos diversos impostos do que a atividades
estratégicas, os executivos dessas áreas assumem a posição de importantes parceiros
nas decisões de negócios. No Brasil, essa tendência é ainda mais forte. A
totalidade dos líderes brasileiros entrevistados afirma ter uma estratégia
fiscal alinhada à estratégia de negócios da empresa. Isso só tem sido possível
graças aos avanços — especialmente tecnológicos — que os países experimentam,
com destaque para o caso brasileiro (leia mais ao lado). Roberto Haddad, sócio
da KPMG especialista em impostos internacionais e fusões e aquisições, explica
que, em um movimento consonante, os países latino-americanos têm desenvolvido —
cada um a sua maneira — estratégias para ampliar o papel da área fiscal no
âmbito nacional. “A Argentina criou controles de câmbio, o México incrementou
as maquiladoras, o Chile tem oferecido incentivos fiscais para atrair
investimentos, enquanto o Brasil investe pesado em tecnologia para aprimorar
processos e tornar mais transparente o sistema fiscal”, compara. Para o estudo,
foram entrevistados 200 líderes dos setores tributários de empresas situadas na
Argentina, no Brasil, no Chile e no México.
A pesquisa mostra que o percentual de
entrevistados latino-americanos que tem uma estratégia fiscal conectada com a
estratégia comercial aumentou de 91% em 2009 para 97% em 2012. No Brasil, esse
índice corresponde a 100%, o que demonstra maior valorização do setor fiscal
dentro das empresas. “Esse cenário reflete uma completa transformação na área
tributária, que deixa de ser um setor de consequência e passa a tomar a
dianteira dos processos ao lado de outras instâncias decisórias”, afirma
Haddad. Houve também notável crescimento no número de empresas que dizem que
sua estratégia fiscal tem aprovação da diretoria da empresa (de 83% em 2009
para 91% em 2012). Para 87% dos entrevistados, a diretoria ou a liderança
corporativa estão diretamente envolvidas na estratégia tributária — um aumento
significativo desde 2009 (61%). No Brasil, está ligeiramente acima da média,
com 88%. Nas empresas brasileiras, além da total integração entre as
estratégias fiscal e de negócios, havendo envolvimento direto de 88% da
diretoria das empresas consultadas, o estudo aponta um investimento maior na
área em comparação à média latino-americana. Brasileiros investiram 88% em
melhorias de tecnologia e 90% em controle de risco, enquanto os investimentos
da América Latina chegam a 78% e 75%, respectivamente. Ainda, 64% dos
entrevistados brasileiros disseram que farão mudanças na estrutura do
departamento no futuro próximo, contra 40% da América Latina. “O Brasil está em
linha com os países líderes no que se refere à atratividade de investimentos e,
atualmente, também ao aparelhamento tecnológico do Fisco,mas tem maior
complexidade tributária. Por exemplo, há produtos que pagam dois impostos em
outros países e seis aqui”, diz Haddad.
Fonte: Clube dos Contadores
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